Quando o problema afeta apenas um dos olhos, é possível retirar células límbicas do olho saudável do próprio paciente para transplante.
São Paulo - Pesquisadores do Instituto Butantã desenvolveram uma técnica para recuperar a visão de pacientes com lesão na córnea utilizando células-tronco extraídas da polpa do dente de leite. Os testes em seres humanos devem começar no próximo mês, em parceria com a Universidade Federal de São Paulo (Unifesp).
"O tecido da córnea precisa ser constantemente renovado, pois as células se desgastam como as da pele", explica a biomédica Babyla Monteiro, responsável pela pesquisa. Essa manutenção, diz ela, é feita por uma região do olho chamada limbo, que fica em volta da córnea. "Mas quando a região límbica é afetada por um trauma ou uma doença, a córnea perde a capacidade de regeneração e se torna opaca, comprometendo a visão."
Quando o problema afeta apenas um dos olhos, é possível retirar células límbicas do olho saudável do próprio paciente para transplante, explica o oftalmologista da Unifesp José Álvaro Pereira Gomes, coautor do estudo. "Mas, quando os dois olhos são afetados, a opção hoje é recorrer a um doador. Mas sempre há risco de rejeição. Com as células-tronco do dente de leite, esse risco é muito menor."
As células da polpa do dente são incorporadas ao tecido ocular do paciente e recobertas por uma espécie de membrana feita de material semelhante à placenta. Elas então se adaptam ao tecido ocular e passam a atuar como células límbicas, reconstruindo a córnea degradada. A técnica vem sendo testada em animais desde 2006.
Em março, os resultados foram publicados na revista "Investigative Ophthalmology & Visual Science". "Agora vamos testá-la em voluntários que foram submetidos à cirurgia convencional, com células de um doador, mas não obtiveram sucesso, seja por rejeição ou por outro problema", diz Gomes.
O tratamento para recuperar a visão de pacientes com lesão na córnea é o primeiro resultado de várias experiências com células-tronco dentárias que vêm sendo realizadas desde 2004 pela geneticista Irina Kerkis, do Instituto Butantã, em parceria com o biólogo Alexandre Kerkis e com o cirurgião-dentista Humberto Cerruti Filho.
Além do tratamento de outros problemas oftalmológicos, como lesões na retina, os cientistas estudam o uso dessas células-tronco na reconstrução óssea, na regeneração de cartilagens e na formação de neurônios
O casal Kerkis, é um dos maiores pesquisadores mundiais de células-tronco retiradas de dente.
Fonte: AE