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Filha briga com irmãs para manter pai morto congelado

É um caso inédito na Justiça. Segundo ela, o militar tinha o sonho de, um dia, ser ressuscitado pela ciência.

A filha de um engenheiro da Aeronáutica, morto em fevereiro, briga com as irmãs pelo direito de manter o corpo do pai congelado, um caso inédito na Justiça Brasileira. Segundo ela, o militar tinha o sonho de, um dia, ser ressuscitado pela ciência.

“Eu não perdi só um pai, eu perdi basicamente a minha vida”, diz Lígia Monteiro. Ainda emocionada, ela diz que está atendendo ao último desejo do pai, que era ser congelado. “Um sonho de ter uma oportunidade de viver de novo, ele acreditava nisso”, conta.

Mas em Canoas, no Rio Grande do Sul, as duas irmãs de Lígia, filhas do primeiro casamento do pai, falam que o desejo dele era outro. “Quando nós íamos ao cemitério, sempre a gente ia lá no túmulo da minha mãe e ele falou pra mim: ‘eu gostaria de ser enterrado aqui’”, diz Denise Nazaré Monteiro.

O corpo em questão é do engenheiro da Aeronáutica Luiz Felippe Monteiro. Há quase quatro meses, a família espera por uma decisão da Justiça: o corpo deve ir para uma empresa de criogenia nos Estados Unidos, especializada em manter corpos congelados, como a filha Lígia quer ou deve ser sepultado no Rio Grande do Sul, como querem suas irmãs, Carmen e Denise?

Essa briga começou no dia da morte do pai. “Ele faleceu às 2h55, nós ficamos sabendo onde estava o corpo às 16h da tarde. Já estava congelado, o advogado chegou e viu que ele estava pronto pra ser embarcado para os Estados Unidos”, lembra Carmen.

“Entrei com uma medida judicial pedindo justamente para que a Justiça impedisse o traslado desse corpo”, diz Rodrigo Crespo, advogado de Carmen e Denise.

As duas irmãs do Sul conseguiram, na Justiça, impedir o transporte do corpo. Mas na última quarta-feira, a decisão foi revogada.

“No dia de hoje, o corpo pode ser transferido para os Estados Unidos. Mas ainda cabe recurso”, avisa Renata Mansur, advogada de Lígia.

A grande questão é que o pai de Lígia, Carmen e Denise não deixou por escrito qual era a vontade dele. “Nunca ninguém ouvi falar sobre isso, ele nunca falou para gente, ele sempre conversava abertamente, era uma pessoa bem culta, esclarecida. Isso não existiu”, afirma Carmen.

Mas a filha Lígia anexou ao processo declarações de amigos, parentes e pessoas próximas confirmando que ouviram o senhor Luiz Felippe dizer que queria sim ser congelado depois de morto.

O corpo está sendo mantido, desde fevereiro, em uma funerária em São Gonçalo, na Região Metropolitana do Rio. Esse trabalho está custando, por dia, R$ 860. Até hoje, Lígia já gastou mais de R$ 100 mil com a funerária.

O traslado também é muito caro. “O traslado custa R$ 18,5 mil. E US$28 mil para manter o corpo nos EUA. Eu já tirei dinheiro de todas as minhas economias, de tudo que eu tinha e o que não tinha. Na verdade, eu deveria ter gasto dois dias só, porque se não fosse a luta na Justiça, o meu pai teria sido trasladado em 48h”, completa.

Em um documento, a funerária contratada por Lígia declara que está seguindo as instruções da empresa americana para a conservação do corpo. O corpo está em uma caixa de fibra de vidro com isolamento térmico, resfriado com gelo seco e monitorado por dois funcionários.

Mas Carlos Ayoub, médico especialista em criogenia, diz que essa maneira de congelar o corpo está errada.

“Esse indivíduo deveria estar na própria clínica de criopreservação ainda vivo e, quando ele morresse, fosse trocado todo o seu sangue por um líquido criopreservante e esse indivíduo fosse congelado imediatamente”.

Nenhuma substância foi injetada nele? “Não”, garante Lígia. Ele só está com o corpo no gelo seco? “Sim”, afirma ela.

Nós tentamos conversar com a funerária onde o corpo está guardado, mas eles não quiseram falar sobre o assunto. Ligamos, então, para várias funerárias, para ver a reação diante de um pedido desses.

Fantástico: Eu queria congelar um corpo.

Funerária: Congelar?

Fantástico: É para mandar para os EUA.

Funerária: Isso não é simples, não.

Fantástico: Criogenia, sabe?

Funerária: Ah, aí já fica meio complicado. Ninguém no Rio de Janeiro faz isso.

Se a decisão da Justiça for a favor de Lígia, o corpo do senhor Luiz Felipe poderá ser o primeiro de um brasileiro congelado e conservado nos Estados Unidos.

E, por mais inusitada que essa história pareça, já tem mais gente pensando nisso. Diego, de 25 anos, formado em filosofia, já se inscreveu para conservar o corpo depois da morte na mesma empresa americana contratada por Lígia.

Ele precisou de três testemunhas que provassem que a vontade dele era essa mesmo: ser congelado depois de morto. “É uma escolha individual que tem que ser respeitada”, diz ele.

“Poxa, já tentei de tudo. Estou agora, em rede nacional pedindo pelo amor de deus para que elas repensem essa situação. Eu estou disposta a qualquer tipo de negociação, já abri mão da minha parte da herança”, diz Lígia.

“Não era o desejo dele. A gente está perdendo o direito de sepultar o nosso pai. Não tive oportunidade de me despedir dele, de velar ele com a nossa família”, diz Denise.

Você também quer ter o seu corpo congelado? “Sim, com certeza”, afirma Lígia.

E espera encontrar com ele no futuro? “Segundo a previsão do diretor do Instituto de Criogenia, dos EUA, a possibilidade de isso vir a ocorrer é dentro de 50 anos. Então, como eu estou com 32, quem sabe nessa vida eu não encontro de novo com meu pai”, diz Lígia.



Fonte: Fantástico

Publicado em: 16 de abril de 2012 às 00:04.
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