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Uso de células-tronco do cordão em transplante cresce 440%

Brasil passou a utilizar cordões umbilicais "nacionais" em transplantes de medula e fornecerá material a outros países

Com financiamento de R$ 30 milhões do fundo social do BNDES, o país vai ganhar mais oito bancos públicos de cordões umbilicais

Quase metade dos transplantes não-aparentados de medula óssea no país já são feitos com células-tronco de sangue de cordão umbilical. Em quatro anos, o índice de participação de cordões "nacionais" nessas cirurgias passou de 10% para 54% (um crescimento de 440%), segundo a rede BrasilCord, que reúne bancos públicos de cordão umbilical.

Até o final do ano, o Brasil também integrará uma rede internacional de bancos de cordão umbilical, fornecendo material a outros países.

O sangue de cordão umbilical e placentário é rico em células-tronco hematopoéticas e é indicado no transplante de medula óssea em pessoas com leucemias, linfomas, anemias graves, entre outras 70 doenças relacionadas ao sistema sanguíneo e auto-imune. Os transplantes também são feitos com doações de medula óssea.

O maior uso dos cordões, que ainda vão para o lixo na maioria das maternidades brasileiras, está sendo possível por conta de um programa do Ministério da Saúde que reúne, no momento, quatro bancos públicos de cordão umbilical -no Inca (RJ), no hospital Albert Einstein (SP) e nos hemocentros de Campinas e Ribeirão Preto.

Com a liberação de um financiamento de R$ 30 milhões pelo fundo social do BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Social), o país vai ganhar outras oito unidades -no CE, PE, PA, DF, PR, RS, SC e MG-, contemplando a diversidade genética da população.

Segundo Luiz Fernando Bouzas, coordenador da rede BrasilCord e diretor do centro de transplante de medula óssea do Inca, o investimento servirá para os bancos montarem laboratórios especializados na seleção e no congelamento de células-tronco. "A idéia é que consigamos armazenar, nos próximos três anos, 50 mil cordões."

Essa meta, aliás, havia sido anunciada há quatro anos pelo governo federal, quando a rede BrasilCord foi criada, mas não foi cumprida. "Esses 50 mil cordões só se tornarão possíveis com o investimento na criação dos bancos. O trâmite para a liberação do financiamento do BNDES é complicado", justifica Bouzas.

O médico diz que, quando os 12 bancos estiverem funcionando, o país conseguirá fazer 85% dos seus transplantes de medula com doadores próprios. O Brasil gasta em torno de US$ 29 mil em cada doação vinda do exterior. Em 2007, foram importados 32 cordões.

A expansão vai possibilitar a integração do país às redes internacionais de bancos de cordão. "Até agora só recebemos. Vamos começar a dar nossa contrapartida", disse Bouzas.

Juntos, os atuais bancos de cordão armazenam 6.000 bolsas de sangue. Do início do programa até agora, 60 unidades foram usadas em transplantes.

Outras 150 estão identificadas, mas os pacientes aguardam um leito para realizar o transplante. Apenas 16 hospitais no país estão autorizados a fazer a cirurgia e ao menos 1.200 pessoas estão à espera.

Segundo a médica Andreza Alice Ribeiro, uma das coordenadoras do banco de cordão do hospital Albert Einstein, outra questão que preocupa é o alto número de mães que doam o cordão umbilical do filho, mas não voltam para repetir os exames sorológicos necessários para a liberação do sangue.

No Einstein, das 2.500 bolsas armazenadas, apenas 1.600 estão liberadas. Os exames são necessários para avaliar a saúde do bebê após o nascimento.

Cordão pode ajudar em tratamento

Não é só a rede pública de sangue de cordão umbilical que está em expansão no país. Há pelo menos 20 serviços privados que oferecem o serviço ao custo médio de R$ 4.000 pela coleta e mais R$ 600 por ano para manter o sangue do cordão congelado.

A promessa é que as células-tronco do sangue do cordão ajudem no tratamento de eventuais doenças que podem afetar o filho ou outras pessoas da família no futuro.

Hospital de Jaú foi pioneiro em transplante com cordão umbilical brasileiro

O Hospital Amaral Carvalho, de Jaú (SP), foi pioneiro no país na realização de transplante de medula óssea usando cordão umbilical brasileiro. A cirurgia, ocorrida em 2004, possibilitou que a garota Vanessa Canal, à época com nove anos, ganhasse uma "vida normal", como ela mesma diz.

"Eu vivia internada, não conseguia comer. Hoje minha vida é normal, como a de qualquer garota. Vou à escola e faço natação e jazz", afirma Vanessa, 12, que futuramente deseja ser "dentista e dançarina".

O hospital de Jaú já realizou 13 transplantes usando cordões brasileiros. Contando os com cordões importados e com as células obtidas de doadores nacionais e internacionais, a instituição atingirá no próximo mês a marca de 1.000 transplantes de medula óssea, realizados desde o início do programa, em 1996. É o quarto centro médico do país a atingir esse número.

Segundo o diretor-superintendente do hospital, Antonio Luis Navarro, do total de transplantes alogênicos (não-aparentados) feitos em 2007 no Brasil, 21% aconteceram em Jaú. "Somos referência em oncologia para 400 municípios do Estado", diz ele.

No caso do transplante de medula óssea, os pacientes vêm quase todos os Estados brasileiros. O hospital não é ligado diretamente a nenhuma universidade -tem parceria com a Unesp de Botucatu-, faz suas pesquisas com verbas públicas e com doações e atende 100% de pacientes do SUS.

Segundo o médico Mair Pedro de Souza, um dos coordenadores do centro de transplante de medula óssea do hospital, a maioria dos pacientes vem do Amazonas, Maranhão e do Ceará. "É muito interessante ter numa cidade de 110 mil habitantes gente vinda de lugares tão diferentes. O universo de relacionamentos nas casas de apoio é muito rico", afirma ele. O hospital mantém três casas de apoio.

Agora, o serviço de Jaú está empenhado na capacitação de médicos dessas regiões para que possam receber mais precocemente os doentes, além de se prepararem para realizar futuros transplantes nessas regiões. "O jeito caipira está fazendo as coisas acontecerem longe daqui", diz o médico.

"Caipira" não é apenas uma força de expressão. A equipe de transplante de medula óssea de Jaú formou um grupo de estudos com pesquisadores de Botucatu, Ribeirão Preto, Barretos e São José do Rio Preto que leva o nome de "conexão caipira".

Há três anos eles se reúnem mensalmente, discutem casos, estabelecem protocolos e fazem publicações científicas. "É uma ação entre amigos, sem estatuto, sem chefes. Começou como uma forma de resolver os problemas de Jaú e já se estendeu a outros serviços do interior."

Comentário CCB:

As células-tronco do sangue do cordão umbilical, coletadas de maneira não-invasiva e armazenadas em nitrogênio líquido, serão uma arma poderosa para muitas doenças que hoje não tem tratamento. O Brasil, mesmo com suas dificuldades econômicas, acompanha e participa da evolução tecnológica da terapia celular.



Fonte: Cláudia Collucci - Folha de SP

Publicado em: 11 de abril de 2008 às 00:04.
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