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Pesquisadores isolam as células-tronco em seu estágio mais original

Estudo ajudará na busca pela cura de diversas doenças.

Brasília – Pela primeira vez, células-tronco pluripotentes humanas foram isoladas em seu estágio mais inicial de desenvolvimento. Pesquisadores do Weizmann Institute of Science, em Israel, chefiados por Jacob Hanna, um dos maiores especialistas no tema, separaram as estruturas que dão origem a qualquer tecido corporal no estado mais imaturo possível, como estão nos primeiros estágios do desenvolvimento embrionários. Elas estavam em um nível tão inicial que, após serem injetadas em embriões de ratos, se desenvolveram sem problemas com os animais, que cresceram contendo tecidos de origem humana.

Os resultados da pesquisa estão publicados na edição de hoje da revista Nature. Hanna conta ao Estado de Minas que a criação dos animais híbridos, chamados de quimeras, serviu para mostrar que se tratava realmente de células muito, muito jovens. O estudo pode levar a grandes conquistas, acredita. “Esse trabalho pode revolucionar as tentativas de geração de modelos animais ‘humanizados’ para o estudo de doenças e pode fazer, ainda, que tecidos humanos cresçam em outras espécies.” Nesse segundo caso, o objetivo seria a produção, em outras espécies, de órgãos para transplantes.

De acordo com Hanna, tanto em embriões humanos quanto de roedores, as células-tronco existem em dois estados: naïve, ou imaturas, e primed, ou diferenciadas. Até agora, ninguém havia sido capaz de isolar uma linha de células-tronco humanas imaturas e estabilizá-las. “O que fizemos foi descobrir um meio, uma solução, que permite manter essas células pluripotentes estáveis e parecidas com as naïve de ratos”, explica outro autor do artigo, Noa Novershtern.

Uma das propriedades interessantes dessas células é a elevada taxa de sobrevivência delas de forma individual, e não em uma colônia, o que também é típico de células naïve. Isso permitiu que elas se integrassem ao embrião dos animais. “Mostramos que as células integradas proliferaram e se diferenciaram adequadamente como parte do embrião”, afirma o autor.

Lídia Guillo, professora do Instituto de Ciências Biológicas da Universidade Federal de Goiás (UFG), explica que o estudo israelense revelou uma nova classe de células-tronco, ainda mais iniciais que as já conhecidas. A pesquisadora ressalta que as isoladas agora são mais imaturas e com uma capacidade maior de diferenciação. “As células pluripotentes que já conhecíamos não eram tão pluripotentes assim”, resume Lídia, que não participou do estudo.

No experimento, os cientistas trabalharam com um ambiente artificial que simulou as condições naturais de desenvolvimento dos embriões híbridos, que foram introduzidos no útero de ratas quando estavam no estágio de blastocisto. Em alguns casos, a equipe não deixou que a gestação chegasse até o fim para verificar se as células humanas estavam de fato se desenvolvendo com os ratinhos. A verificação foi possível porque os pesquisadores marcaram as estruturas humanas com uma proteína fluorescente, que as tornava facilmente identificáveis.

Ética - Jacob Hanna explica que seguiu protocolos aprovados pelos comitês de Supervisão em Pesquisa de Células Tronco Embrionárias (Escro, na sigla inglês) do Weizmann Institute e do Lis Hospital e também obteve aprovação do Comitê Nacional de Ética israelense. Os casais que participaram da pesquisa como doadores de embriões assinaram um termo de consentimento e não receberam nenhum tipo de remuneração.

No entanto, apesar do respaldo, criar híbridos de duas espécies, ainda mais envolvendo células embrionárias humanas, sempre gera polêmica. Luciana Barros Sant’ana, pesquisadora do Laboratório de Imunologia da Universidade do Vale do Paraíba (Univap), destaca que o uso de embriões híbridos ainda não está regulamentado na maioria dos países.

“No Brasil, a Lei de Biossegurança, nº 11.105, de 2005, trata somente do uso de embriões humanos. Sei que a Inglaterra foi o primeiro país a permitir pesquisas assim, mas a maioria proíbe ou ainda não tem leis regulamentando.”

“Por mais estranho que pareça, tecidos e embriões quiméricos são usados na pesquisa científica há muitos anos para testar uma função do organismo. Nessa pesquisa, o embrião não era o objetivo, mas sim uma forma de provar a capacidade pluripotente das células”, observa o geneticista Gustavo Guida.

Mitologia - Na mitologia grega, a quimera era uma mistura de leão e cabra, às vezes com três cabeças, sendo uma delas a de serpente. Devastava aldeias e devorava exércitos, deixando para trás muitos prejuízos. No entanto, diferentemente do que se acreditava na antiguidade, a ciência moderna usa essas criaturas – geradas por linhagens geneticamente diferentes – para vários fins. Hanna usou uma quimera de humano e rato para testar seus resultados.

  Duas perguntas para... Jakub Tolar, diretor do Instituto de Células-Tronco da Universidade de Minnesota, nos Estados Unidos  

  • Como devemos entender esse trabalho?

Ele deve ser visto na perspectiva do que Jacob Hanna fez antes. Ele foi o primeiro a entender como a reprogramação celular funciona. Em 2007, ele mostrou, pela primeira vez, como corrigir uma doença humana com células pluripotentes (Hanna curou ratos com anemia falciforme). Aqui, ele abordou outro passo da reprogramação. Não existem células totalmente pluripotentes. Embora o nome dela seja esse, elas não são – temos sempre usado coisas que são um pouco diferente e artificiais, um pouco diferenciadas. Nesse trabalho, eles descobriram o que é necessário para transformar uma célula em muito imatura. O impacto é enorme, pois os trabalhos combinados criam uma nova plataforma para ajudar a entender doenças humanas. Essas células são mais verdadeiras do que uma célula pluripotente seria e não têm mudanças genéticas, o que as deixa mais estáveis para pesquisas.

  • O senhor acredita que um dia a ciência poderá criar órgãos e tecidos humanos em animais de outras espécies?

Há estudos japoneses que “trocaram pedaços” de células de ratos e camundongos e, assim, criaram um pâncreas de rato em um camundongo. Pesquisas da mesma linha foram feitas com porcos. Na teoria, tudo isso é possível.

Comentário CCB:

As pesquisas com células-tronco também se estendem para procura da melhor fonte.



Fonte: Estado de Minas

Publicado em: 31 de outubro de 2013 às 21:10.
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