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Tecidos humanos em laboratório, um sonho cada vez mais próximo

Pesquisadores liderados pela professora Patricia Pranke trabalham criando um material para reproduzir tecido humano em uma impressora 3D

Professora Patricia Pranke coordena equipe de 25 pesquisadores na Ufrgs     Foto: Paulo Pires

Hoje com 46 anos, Sara Machado tinha 19 quando conseguiu trabalho em uma lanchonete no Interior do Estado. No começo atendia pedidos, recolhia os pratos e ajudava na limpeza. Porém, não levou muito tempo para começar a auxiliar na cozinha. Ela lembra como se fosse hoje que fritava ovos e bacon quando escorregou em uma mancha de óleo no chão e acabou caindo sobre a chapa da fritadeira. O braço esquerdo ficou apoiado sobre o ferro fervendo. “Na chapa, ficou a pele do meu braço, do cotovelo à mão”, recorda. “Não importa o sol que for, até hoje só saio de casa com camisetas de manga comprida”, diz.

Na época, não havia muito o que a medicina pudesse fazer para restaurar o tecido perdido pela Sara durante o acidente. Mesmo após duas cirurgias, ela continuou com metade do braço completamente escuro, por conta das queimaduras. E se fosse possível criar em laboratório o tecido para restaurar a área afetada? Isso parece mote para uma obra de ficção- científica, porém já é bem mais real do que se imagina. Cientistas trabalham há anos na criação de tecnologias que permitam construir órgãos, ossos, tecidos. Professora da Faculdade de Farmácia da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (Ufrgs) e membro do Instituto de Pesquisa com Células-Tronco, Patricia Pranke coordena uma equipe de 25 pesquisadores, atualmente empenhados em criar justamente tecido humano em laboratório.

A professora de 52 anos tem um aliado importante em sua pesquisa conduzida no Laboratório de Hematologia e Células-Tronco da Ufrgs: a primeira bioimpressora 3D do Estado. O equipamento que fica no campus da universidade em Porto Alegre poderá ser capaz de criar material que reproduz a pele humana. “Quando a escritora Mary Shelley criou o romance Frankenstein em 1823, ela ilustrou bem o espanto das pessoas na época com o que era tratado como um monstro”, frisa. “Só que, na verdade, a criatura do livro nada mais é que um homem que retorna à vida transplantado”, continua. “Agora, as pessoas também estão espantadas ao ouvir sobre tecido humano sendo reproduzido no laboratório, porém acredito que isso será possível.”

O sonho do departamento de Engenharia de Tecidos e Medicina Regenerativa da universidade é recuperar um órgão lesionado. “Se a pessoa precisa de um rim ou coração novos, é uma coisa. No entanto, se ela necessita tão somente de um pedaço do osso ou uma parte da pele, acreditamos ser possível reconstruir o que está faltando”, aponta. A pesquisa tem alcançado bons resultados em animais de pequeno porte. Os pesquisadores já reconstruíram pedaços de tecido de ratinhos com ótimos resultados.

Resumidamente, o estudo une conhecimentos de nanotecnologia, impressão 3D e células-tronco, com o objetivo de desenvolver um novo material que serve perfeitamente para substituir a parte lesionada. “Não falo em pele artificial, porque não vamos criar nada artificial”, defende. “Queremos criar um tecido natural, usando material biocompatível e biodegradável, que consiga reagir ao tempo, deixando depois somente o tecido natural e vivo ao final do processo.”

A impressão 3D

O equipamento adquirido pelo laboratório tem funcionamento semelhante ao jato que coloca cada letra em uma folha de papel em branco comum. Porém, diferente das impressoras que trabalham horizontal e verticalmente em uma página, a 3D atua também em camadas, de baixo para cima, o que permite que os pesquisadores consigam “tecer os fios.” “A pele não é uma camada só. São várias camadas, sendo preciso células entre elas”, explica a professora. Assim, é muito complexo o processo de se recriar o tecido humano.

A bioimpressora 3D vai funcionar fazendo “bioimpressão”, que é um conceito inovador, segundo a professora esclarece. Os cientistas criam uma espécie de “biotinta”, processo que é feito a partir de elementos microscópicos, que depois são usados para “tecer os fios.” “Para se ter uma ideia do que estamos criando, é como construir um edifício com pessoas já morando dentro dele”, compara a especialista. “No momento, estamos construindo protótipos com células e sem células para regenerar lesões.”

Bioimpressão

Embora o estudo na área seja abrangente em várias linhas de pesquisa e venha sendo desenvolvido há sete anos, o reforço do equipamento 3D garantiu o primeiro projeto com bioimpressão na tentativa da regeneração de tecido. “Hoje em dia, em pacientes queimados são usados tecidos artificiais. O ideal é usar pele humana mesmo. Só que não há doador para isso”, observa. “Então queremos tornar este processo realidade. Tornar o que parece impossível, possível.”

A equipe da professora Patricia Pranke trabalha com pesquisa básica, que é aquela que não envolve seres vivos, e também a pré-clínica. “Nós estamos avançados em alguns estudos, então não é impossível daqui a pouco usarmos o que vem sendo feito em pacientes.”

O futuro do tratamento

Mesmo se tratando de um trabalho ainda não aplicado em pacientes, os pesquisadores sonham em ver seu trabalho usado de forma concreta. Um dos expoentes que vêm trabalhando junto a Patricia Pranke é o cirurgião plástico e presidente da Sociedade Brasileira de Queimaduras no Rio Grande do Sul Bruno Jose Alcantara. Ele esclarece a importância do que vem sendo pesquisado ao apontar que hoje o trabalho feito em hospitais com o material conhecido como Integra, usado para substituir tecido queimado, é complicado até pelo custo “absurdo.” “Apenas duas placas pequenas de Integra custam R$ 70 mil, o que é muito difícil se levando em conta nosso Sistema de Saúde”, destaca.

O profissional carioca de 42 anos reforça ser possível, sim, no futuro, conseguir a reprodução do tecido em laboratório. “A ideia é coletar uma pequena amostra do paciente traumatizado e então trabalhar em cima, criando material que seja compatível e não cause qualquer rejeição imunológica”, diz.

Comentário CCB:

A bioimpressão já é uma realidade até para órgãos complexos.

fonte: Jornalnh.com.br | Leandro Domingos

Publicado em: 7 de novembro de 2019 às 15:11.
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