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Cientista já estudou com livros do lixo e hoje busca tratamento para asma

Quando era criança, uma das brincadeiras favoritas da cientista Dayene Caldeira, 28, era pesquisar as características das doenças e explicá-las para os adultos. O material de consulta eram livros que ela e a avó encontravam no lixo, enquanto recolhiam recicláveis para ajudar no sustento da família, que morava na periferia do Rio de Janeiro.

A cientista Dayene Caldeira | Imagem: Fundação Estudar/Divulgação.

"Minha avó não sabe ler, mas sempre acreditou na educação. Toda vez que encontrava um livro, ela me dava. Foi assim que eu aprendi inglês e que me apaixonei pela área da saúde", conta a pesquisadora.

Com apoio também da mãe, que era cobradora de ônibus, Caldeira se formou em fisioterapia, fez mestrado e agora está no doutorado em ciências biológicas no Laboratório de Investigação Pulmonar da UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro), onde pesquisa uma técnica que, com uso de células-tronco, tem o objetivo de fazer a regeneração dos pulmões de pacientes com asma.

O interesse pelo tema veio também de casa, da avó diagnosticada com asma grave.

"Eu me lembro das muitas vezes em que ela foi internada na UPA [Unidade de Pronto Atendimento] com crise de asma. Em algumas delas, a gente achou que fosse perdê-la", diz.

Com a pesquisa em andamento, ela quer ajudar não só a avó, que nunca teve acesso a tratamentos de ponta, mas também as cerca de 20 milhões de pessoas que vivem com asma no Brasil, segundo a Sociedade Brasileira de Pneumologia e Tisiologia. A doença leva a 350 mil internações por ano no Sistema Único de Saúde.

'Ciência tem que ter diversidade'

Pacientes com asma têm uma reação alérgica, causando inchaço e estreitamento das vias que levam o ar do nariz até o pulmão. Os sintomas comuns são tosse, dificuldade para respirar e chiado no peito.

A doença pode ser causada por fatores genéticos e ambientais, como a poluição, que foi o tema da dissertação de mestrado de Dayene na UFRJ. À época, ela mostrou como a existência de nanopartículas de combustíveis fósseis, como o diesel, podem piorar o sistema respiratório de camundongos em apenas 24 horas.

"As periferias das grandes cidades estão rodeadas de grandes avenidas. Essa é a minha realidade, é a minha experiência de vida. Então, para fazer ciência, eu sei que é preciso diversidade, com estudos que representem de fato a nossa população e, assim, os resultados sejam mais robustos", afirma.

Foi durante o mestrado que ela descobriu que havia um boom de pesquisas em outros países sobre a relação de algumas doenças e disfunções nas mitocôndrias, que são estruturas responsáveis pela produção de energia das células.

A cientista começou então a se perguntar: será que a cura da asma também pode estar relacionada com as mitocôndrias? E transformou a questão no tema de sua pesquisa de doutorado.

"Estudos já mostraram que uma nova mitocôndria é capaz de recuperar a função daquele tecido. O que a gente quer fazer é testar se a transferência mitocondrial, com uso de células-tronco, é capaz de regenerar o pulmão das pessoas com asma", explica.

Os tratamentos disponíveis hoje para pacientes com asma são baseados em medicamentos que agem para combater a inflamação do tecido pulmonar, aliviando os sintomas. O problema é que, a cada nova crise, os brônquios e as vias aéreas perdem um pouco da sua função e da capacidade de se recuperar.

Nova abordagem terapêutica

O estudo de Dayene busca uma nova abordagem terapêutica, que dê conta de melhorar a qualidade de vida do paciente e, se possível, recuperar totalmente o tecido pulmonar. "Não podemos falar em cura, mas, no fim, esse é sempre o objetivo da ciência", diz.

A pesquisa ainda está na fase de estudos pré-clínicos, com testes in vitro e em animais e deve durar até o fim do doutorado, previsto para 2024.

A etapa clínica, com seres humanos, quando serão avaliados os riscos para os pacientes e a eficácia da abordagem, deve ser realizada em um possível pós-doutorado.

"Neste momento, a gente trabalha para confirmar a hipótese de que essa nova abordagem melhora a função pulmonar. Ainda existe um longo caminho, mas os resultados que tivemos até agora nos deixam bem animados", diz.

Até o final do ano, ela deve embarcar para a Universidade de Vermont, nos Estados Unidos, onde fará, ao lado de pesquisadores de referência em doenças pulmonares, parte dos testes em laboratório. O intercâmbio será realizado com bolsa de estudos do programa Líderes, da Fundação Estudar.

Comentário CCB:

Querer é poder...

Fonte: Marcelle Souza | uol

Publicado em: 23 de novembro de 2021 às 22:11.
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