O Hospital das Clínicas (HC) de Ribeirão Preto fez ontem à tarde seu primeiro transplante de medula óssea com células-tronco de cordão umbilical, inédito na região. O transplante foi em Davi Loregian de Souza, uma criança de 2 anos e 9 meses, vítima de leucemia desde junho de 2008.
Os procedimentos médicos foram realizados na unidade de Transplante de Medula Óssea (TMO), no prédio do campus da Universidade de São Paulo (USP), com duração de apenas 15 minutos, e considerados um sucesso pela equipe médica, coordenada pelo pesquisador Júlio César Voltarelli.A criança passa bem no isolamento do TMO. Se a infusão na medula apresentar os resultados esperados, ela terá uma fase de recuperação de 20 até 40 dias, dependendo da reposta do organismo. As células do cordão umbilical são de um doador não aparentado, compatíveis à composição genética de Davi. Elas foram encontradas no banco armazenador do Instituto Nacional do Câncer (Inca), no Rio de Janeiro.
Segundo Voltarelli, um dos principais pesquisadores de células-tronco do Brasil, “esse tipo de transplante não exige intervenções cirúrgicas traumáticas, por isso é realizado em pouco tempo”. O mais difícil, de acordo com ele, “é encontrar as células do cordão umbilical compatíveis, mas conforme vão aumentando as doações e os bancos de armazenamento, ficará mais fácil atender os pacientes que aguardam na fila”.
Davi tem uma doença rara, chamada Leucemia mielomonocítica juvenil. Ela não permite tratamento, como por exemplo a quimioterapia. Só pode ser curada com o transplante de medula óssea. Ontem de manhã, no quarto 520, do 5º andar do HC, a mãe do paciente, Michelle Moreira, disse por telefone que “o tratamento pré-transplante foi muito bem sucedido e dentro de 100 dias Davi será uma criança totalmente recuperada”.
Esse tipo de transplante já foi realizado em algumas unidades de TMO do Brasil. “No total, temos 12 centros credenciados. Hoje (ontem) estamos realizando o primeiro da região, mas no Estado de São Paulo, por exemplo, já foram feitos transplantes em Jaú e Campinas”, comentou Voltarelli. Os centros credenciados dependem da compatibilidade do conjunto de genes entre parentes e, quando não há, recorrem à BrasilCord - Rede Nacional de Bancos Públicos de Sangue de Cordão Umbilical e Placentário para Transplante de Células-Tronco Hematopoéticas.
Cordão tem concentração de células - Durante a gravidez, o oxigênio e nutrientes essenciais passam do sangue materno para o bebê por meio da placenta e do cordão umbilical. O sangue que circula no cordão é o mesmo do recém-nascido. Os pesquisadores identificaram no cordão um grande número de células-tronco hematopoéticas, fundamentais no transplante de medula óssea. O transplante é indicado para pacientes com leucemias, linfomas, anemias graves, anemias congênitas, hemoglobinopatias, imunodeficiências congênitas, além de outras doenças do sistema sanguíneo, conforme informações da Associação de Medula Óssea (Ameo). As chances de um brasileiro localizar um doador de sangue do cordão umbilical em território nacional é trinta vezes maior que a chance de encontrar o mesmo doador no exterior, de acordo com pesquisa realizada pelo Registro Nacional de Doadores de Medula Óssea (Redome). Isso ocorre devido às características genéticas comuns à população brasileira. (LHT)
Os tratamentos com células-tronco do sangue do cordão umbilical, em breve, substituirão com vantagem os transplantes de medula.
Fonte: Luís Henrique Trovo/Gazeta