Um novo estudo, publicado na revista Cell Stem Cell, mostra como pesquisadores chineses conseguiram desenvolver rins contendo 60% de células humanas em suínos
Cientistas chineses conseguiram desenvolver com sucesso rins contendo células humanas em embriões de porcos pela primeira vez, como mostra o estudo publicado na revista científica Cell Stem Cell. O objetivo desta pesquisa é encontrar alternativas para realização de transplantes de órgãos em seres humanos.
A técnica utilizada pelos pesquisadores envolveu alterar a composição genética dos embriões suínos para em seguida, injetar as células responsáveis pela formação de rins humanos dentro dos animais. Segundo a equipe responsável pelo projeto, após os embriões serem implantadas nas porcas, passados 28 dias, começaram a desenvolver rins com estrutura normal, mas com uma grande presença de células humanas.
Os rins foram a principal escolha dos pesquisadores dos Institutos de Biomedicina e Saúde de Guangzhou porque são um dos primeiros órgãos a se desenvolver e os mais comuns de serem transplantados na medicina. No Brasil, o transplante de rim representa cerca de 70% do total de transplantes de órgãos, segundo o Ministério da Saúde.
Para a pesquisa, foram fertilizados, no total, 1.820 embriões para 13 mães de aluguel. As gestações foram interrompidas aos 25 e 28 dias, para que fosse feita uma avaliação avaliar do experimento, já que o maior desafio na criação de "híbridos" é o fato de que as células suínas predominam, em relação as células humanas.
A equipe conseguiu excluir dois genes essenciais para a formação de rins dentro de um embrião de porco, através da a edição genética CRISPR, criando o que é chamado de “nicho”. Em seguida, adicionaram células-tronco humanas especialmente preparadas (as quais têm potencial para se desenvolver em qualquer outro tipo de célula).
Antes das porcas receberem os embriões, os cientistas os cultivaram em tubos de ensaio contendo substâncias nutritivas para os diferentes tipos celulares (tanto humanas quanto suínas). Passado o período de tempo predeterminado, foi descoberto que cinco embriões selecionados para análise apresentavam rins saudáveis. Os órgãos, em desenvolvimento, já apresentavam os ureteres, que eventualmente os conectariam à bexiga. Dentre as suas células, entre 50% a 60% eram humanas.
O método utilizado nesta pesquisa é diferente dos que é utilizado por pesquisadores dos Estados Unidos. Pois, estes, modificaram geneticamente rins de porcos, e até mesmo um coração, para realizar o transplante em humanos.
Além disso, como aponta Liangxue Lai, autor sênior e pesquisador do Instituto de Biomedicina e Saúde de Guangzhou, na China, em um comunicado, órgãos de ratos foram produzidos em camundongos e órgãos de camundongos foram produzidos em ratos, mas tentativas anteriores de cultivar órgãos humanos em porcos não funcionaram.
"Nossa abordagem melhora a integração das células humanas nos tecidos receptores e nos permite cultivar órgãos humanos em porcos”, escreveu Liangxue em um comunicado.
No entanto, questões éticas foram levantadas a partir desta pesquisa. Tanto por uma preocupação com o bem-estar dos animais envolvidos, quanto pela utilização de células humanas na criação de um organismo híbrido. Além disso, algumas dessas partes celulares foram encontradas nos cérebros dos porcos, conforme informam especialistas.
A equipe responsável planeja prosseguir a pesquisa com parcimônia, visando permitir que os rins se desenvolvam por mais tempo. Outro ponto apresentado é que para além dos rins, futuros trabalhos serão voltados para a criação de coração e pâncreas humanos em suínos.
As células-tronco mesenquimais pluripotentes adultas, retiradas do tecido do cordão umbilical, polpa do dente de leite, ou gordura de jovens, tem a capacidade de se diferenciar nos 203 tipos de tecidos que formam nosso organismo, exceto o sangue.