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As mãos do doutor Pagnoncelli

Com Parkinson desde 1991, o pediatra lidera no Estado o instituto incumbido de buscar a cura nas células-tronco, enquanto convive há um ano com o aparelho que coordena suas funções cerebrais.

As mãos do médico Ronald Pagnoncelli de Souza voltaram a falar. Pagnoncelli sempre falou também com as mãos, como se conduzisse as frases até a ponta dos dedos. Em outubro de 1991, um mês antes de completar 55 anos, no auge da carreira, sentiu que seus movimentos perdiam leveza. Passou a esconder sob a mesa as mãos trêmulas que não mais o obedeciam. Os pacientes não poderiam ver que as mãos do doutor Pagnoncelli haviam sido caladas pela doença de Parkinson.

Agora, o pediatra de gerações de gaúchos completa um ano de reabilitação. Sentado na poltrona do escritório, no apartamento do bairro Rio Branco, em Porto Alegre, Pagnoncelli conta por que se sente melhor. O médico de gestos suaves fala de novo com as mãos, sem o desconforto dos tremores.

Desde o ano passado, reassume sem pressa, com a ajuda de um chip implantado no peito, o controle dos movimentos. O chip é um microcomputador colocado sob a pele. O aparelho transmite por fios que penetram no crânio as ordens capazes de reorientar o funcionamento do cérebro. Sob o comando do aparelho, impulsos eletrônicos fazem a vigília do equilíbrio que o Parkinson teima em desarrumar. A interferência não é apenas física, como a do marcapasso que dá ritmo aos batimentos do coração. É química.

Pagnoncelli recupera gradualmente os movimentos porque os impulsos da Estimulação Cerebral Profunda agem na complexa rede de neurotransmissores do cérebro que regulam os movimentos do corpo. O cérebro do médico voltou assim a produzir dopamina. A falta ou escassez de dopamina havia acionado a doença que quase o consumiu.

Aos 72 anos, o pediatra e especialista em adolescência é um dos 20 mil gaúchos que sofrem de Parkinson, muitos com menos de 40 anos de idade. Cada um deles tem um drama único, particular, que não abala apenas o doente, mas degrada também a família. O drama de Pagnoncelli é o de um profissional de ponta da medicina submetido ao mesmo sofrimento que por 20 anos martirizou sua mãe, dona Marcemina, morta em 2004 aos 88 anos.

O médico que não sabia como ajudar a decifrar a doença da mãe passou a ser subjugado pela mesma enfermidade. Mas seu dilema também é confrontado com uma perspectiva que os médicos compreendem melhor – a da expectativa de que logo ali haverá a cura.

A torcida pela cura, em nome dos filhos - Há dois anos, passou a ser cuidado pela auxiliar de enfermagem Silvana Carvalho, 34 anos. Um dia, na casa dele na Serra, em Canela, olharam-se, abraçaram-se. Começaram a namorar. Estão juntos até hoje. Esta semana, Pagnoncelli voltou ao consultório de Telmo Reis. O neurocirurgião explicava o funcionamento do aparelho de estimulação, exaltava os investimentos do Hospital Moinhos de Vento em tecnologia, e o pediatra o escutava com admiração.

No Rio Grande do Sul, o médico é um dos 33 doentes de Parkinson que usam o chip. O equipamento americano custa R$ 100 mil. Pacientes do SUS já tiveram acesso ao estimulador – indicado apenas para casos graves e específicos – depois de recorrerem à Justiça.

A grande esperança de Pagnoncelli está nos experimentos com células-tronco. Em 2005, conheceu a professora e pesquisadora Patricia Pranke, da UFRGS, que o convidou a participar do Instituto de Pesquisa com Células-Tronco. Hoje, é o diretor-superintendente, o principal cargo de gestão da entidade que reúne profissionais de várias áreas e tem em seu conselho nomes como Drauzio Varella e Moacyr Scliar.

Patricia, professora de Hematologia da Faculdade de Farmácia, doutora pela UFRGS e pelo Laboratório de Células-Tronco do Banco de Sangue de Nova York, tem acompanhado as últimas conquistas das pesquisas no mundo. Há pouco, esteve na Universidade de Cardiff, País de Gales, para conhecer os experimentos com camundongos feitos pelo pesquisador Stephen Dunnett. Ronald Pagnoncelli é um otimista. Acredita que em cinco anos a cura do Parkinson será encontrada nas células-tronco:

– Sonho com a cura. Penso nos meus filhos.

Este ano, voltou a dirigir. Deixou de usar bengala. E quase toda semana faz uma aposta na Mega Sena:

– Se ganhar, destino tudo à pesquisa com células-tronco.

Caminhando pela sala de jantar do apartamento, mostra quadros pintados por Sônia. Numa das obras, a artista plástica fez uma colagem de pássaros e gaiolas com uma fotografia do marido quando era criança, com uns dois ou três anos. É a única imagem em que ele aparece no ambiente. O pediatra Pagnoncelli contempla e vigia todos os dias o menino Ronald. Ou quem sabe seja o contrário.

Comentário CCB:

A terapia celular é hoje a única esperança para mais de 300 doenças que não tem tratamento específico.



Fonte: ZeroHora

Publicado em: 21 de julho de 2009 às 00:07.
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